Prisão de Queiroz reduziu diálogo entre bolsonaristas em grupos de WhatsApp

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Fabrício Queiroz ao ser preso em Atibaia (SP).

A notícia de que Fabrício Queiroz foi preso no imóvel do advogado Frederick Wassef, que representa Jair Bolsonaro e o filho Flávio Bolsonaro, não causou comoção entre apoiadores do presidente reunidos em grupos de WhastApp. O episódio, na realidade, fez cair pela metade as mensagens trocadas entre bolsonaristas na plataforma. Os dados são referentes ao monitoramento de 1.734 grupos analisados desde 2017 pelo professor David Nemer, da Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos.

O levantamento de Nemer indica que na última terça-feira, quando a Polícia Federal (PF) deflagrou uma operação contra integrantes da base de apoio a Bolsonaro, esses grupos somaram 18,9 mil mensagens entre meia-noite e 9h30m. No dia seguinte, quarta-feira, o número foi de 17 mil. Já ontem, com Queiroz preso desde às 6h, foram trocadas apenas 9 mil mensagens durante o mesmo período.

A diminuição no fluxo de conversas tem motivo, segundo Nemer. Ele avalia que, na existência de poucas críticas a Bolsonaro por parte dessa base, a suspensão da troca de ideias se justifica como uma evidência de que há nela uma preocupação com o episódio envolvendo Queiroz e o paradeiro dele no imóvel do advogado do presidente.

— A autocrítica dos apoiadores e a crítica ao Bolsonaro não existem nesses grupos, o que mostra como eles se radicalizaram. Antes, era possível ver um debate, com perguntas e questionamentos. Hoje, quem questiona tem uma chance muito grande de ser removido. Nesse momento, a forma de entender o impacto que a prisão do Queiroz teve é analisar o silêncio, que representa a preocupação com Bolsonaro e o bolsonarismo como um todo — afirma o professor, projetando duas possibilidades: — Estão preocupados ou esperando conteúdo que os guie e dê um norte para a reação.

Tempo de reação

O fator surpresa da operação que prendeu Queiroz, diz Nemer, também pode ter sido definitivo para que os bolsonaristas tenham conversado menos uns com os outros nesta quinta-feira.

Em outras ocasiões, quando os apoiadores do presidente nutriam expectativas por determinados acontecimentos, eles costumavam ter respostas e conteúdos prontos para reagir em defesa de Bolsonaro. Não à toa, as mensagens que mais circularam ultimamente foram ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF), que autorizou as diligências da última terça-feira contra integrantes da base presidencial.

— O ecossistema do WhatsApp bolsonarista não está preparado para responder, mesmo que em forma de desinformação, quando é pego de surpresa — analisa Nemer.

A reação tímida não foi registrada somente no aplicativo de mensagens. No Twitter, rede em que os apoiadores de Bolsonaro costumam mobilizar campanhas diárias para alavancar hashtags, também não houve comportamento semelhante aos outros dias. Embora o nome de Queiroz tenha sido mencionado mais de 900 mil vezes na plataforma até a noite de ontem, bolsonaristas não turbinaram publicações de mensagens de apoio como a já conhecida “#FechadocomBolsonaro”.

O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), um dos principais usuários do Twitter que influenciam a rede de apoio ao presidente, não escreveu sobre a prisão de Queiroz. O mesmo aconteceu no perfil da deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) e do agora ex-ministro Abraham Weintraub, que atuam na linha de frente da mobilização na plataforma.

Fonte: yahoo