Bolsonaro omitiu encontro com delegado da PF

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(Andressa Anholete / Getty Images)

O presidente Jair Bolsonaro omitiu de sua agenda oficial o encontro com o delegado da Polícia Federal Carlos Henrique Oliveira de Sousa, que na época havia sido escolhido pela PF para comandar a Superintendência do Rio de Janeiro. Esse encontro foi revelado pelo próprio Carlos Henrique em depoimento prestado ontem, mas não aparece em nenhum dia da agenda presidencial do segundo semestre de 2019, segundo levantamento feito pelo EXTRA.

No depoimento, Carlos Henrique narra ter sido levado ao Palácio do Planalto pelo delegado Alexandre Ramagem, que já era diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), para conhecer Bolsonaro. Ramagem era o nome escolhido pelo presidente para comandar a PF em substituição ao diretor-geral Maurício Valeixo, mas o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes vetou essa nomeação, por entender haver “desvio de finalidade”.

A agenda de Bolsonaro registra dez reuniões com a presença de Ramagem no segundo semestre, mas nenhuma delas na presença de Carlos Henrique. Desses encontros, três foram a sós entre Ramagem e Bolsonaro. Não há registro de qualquer agenda de Carlos Henrique com o presidente.

Planalto se cala

As supostas interferências indevidas do presidente Bolsonaro na PF do Rio de Janeiro são alvo de um inquérito em andamento no Supremo Tribunal Federal, que apura se o presidente tinha interesse em interferir em investigações em andamento contra familiares e aliados. O delegado Carlos Henrique, que hoje ocupa o cargo número dois na hierarquia da PF, foi ouvido duas vezes nessa investigação.

Segundo fontes da PF, na época do encontro, Carlos Henrique havia sido anunciado pela corporação como o novo superintendente do Rio, mas a sua nomeação no Diário Oficial estava travada por uma resistência de Bolsonaro. Isso porque, em agosto do ano passado, o presidente tentou indicar um nome sua confiança para o cargo, mas houve resistência interna da PF. A corporação não quis nomear o indicado por Bolsonaro e escolheu Carlos Henrique para chefiar a PF do Rio. Em 15 de agosto, a PF soltou uma nota anunciando o seu nome para o cargo, mas a nomeação demorou meses para sair no Diário Oficial.

Entre outubro e novembro, ainda sem sua nomeação definida, Carlos Henrique foi levado por Ramagem para o encontro com Bolsonaro. Segundo interlocutores, Ramagem viabilizou a reunião para que Bolsonaro conhecesse o futuro superintendente da PF do Rio e, com isso, diminuísse a resistência com a indicação de seu nome. De acordo com fontes da PF, o então ministro da Justiça Sergio Moro só foi informado do encontro depois que ocorreu.

Pouco tempo após o encontro, a nomeação de Carlos Henrique foi destravada. O decreto de nomeação foi publicado em 21 de novembro.

A reportagem questionou a Secretaria de Comunicação do Planalto na noite de ontem sobre a omissão ao encontro com Carlos Henrique, mas não houve resposta. Em seu primeiro depoimento, Carlos Henrique havia omitido sua relação com Ramagem. Por isso, ele pediu para ser ouvido novamente.

Fonte: Yahoo