Moro vs Lula: o novo round

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Apoiadores de Sergio Moro vendem camisetas e bonecos infláveis em Curitiba durante julgamento em 2017. Foto: Nacho Doce/Reuters

Entre retroescavadeiras e motins de policiais militares pelo país, passou batida, na semana passada, a notícia de que a Polícia Federal ouviu, na quarta-feira (19), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em um inquérito aberto a pedido do ministro Sergio Moro (Justiça) para investigar ofensas ao presidente Jair Bolsonaro.

O episódio marcou um novo round entre Lula e o ex-juiz que condenou o petista no caso do triplex do Guarujá.

Ao fim do depoimento, petistas chegaram a dizer que o próprio delegado responsável pelo depoimento havia dito que o hoje ministro bolsonarista pediu providências com base na Lei de Segurança Nacional. O Ministério da Justiça chegou a confirmar a informação, mas depois recuou.

O ruído de informações causou espanto, segundo o site Conjur, que ouviu especialistas sobre a possibilidade de uma lei da ditadura ser evocada para investigar adversários políticos.

Em entrevista à coluna Painel, da “Folha de S.Paulo”, o ministro disse que tudo não passou de confusão.

“Quando há ameaça ao presidente temos requisitado inquérito com base no Código Penal e na Lei de Segurança Nacional. Nesse caso, não era ameaça, era calúnia”, explicou o ex-juiz.

Segundo ele, a condição de ex-presidente não torna ninguém imune à lei. “Então, o ex-presidente não tem imunidade para cometer crime contra honra contra quem quer que seja”, condenou o ex-juiz, antes mesmo de esperar o fim do inquérito.

Moro se refere a uma declaração feita pelo ex-presidente em novembro do ano passado, quando disse não ser possível que um país do tamanho do Brasil tenha o “desprazer de ter no governo um miliciano responsável direto pela violência contra o povo pobre, responsável pela morte da Marielle, responsável pelo impeachment da Dilma, responsável por mentirem a meu respeito”.

O episódio não tem apenas cara de déjà vu, como nos tempos em que as revistas reproduziam um ringue entre Moro e Lula às vésperas do julgamento na 13ª Vara Federal de Curitiba. A diferença é que, agora, Moro fala em nome do governo — mais especificamente do chefe, para quem parece atuar cada vez mais como advogado.

A Polícia Federal, vale lembrar, está subordinada à pasta do ministro, mas se o caso é de calúnia, e não ameaça, não era o caso de o atual presidente buscar, ele mesmo, uma reparação na Justiça? Precisava mesmo um ministro tomar as dores e usar o cargo para pedir apuração? Quem, além de Bolsonaro, possui um canal como este quando se sente ofendido por declarações públicas?

Seja como for, esta não é a primeira vez que Moro age dessa forma.

Em outubro do ano passado, ele foi criticado após enviar um ofício à Procuradoria-Geral da União pedindo que instâncias superiores ouvissem o porteiro que se citou (e depois recuou) o presidente no caso Marielle Franco.

Em entrevista à revista “Veja”, o ex-ministro da Justiça Miguel Reale Júnior afirmou que Moro usava o cargo para atuar como advogado particular de Bolsonaro. “Isso é interferência na Polícia Judiciária. Está pressionando via Justiça Federal para constranger uma testemunha. Causa temor essa interferência”, disse Reale Júnior, um dos autores do pedido de impeachment de Dilma Rousseff.

Fonte: yahoo