Miliciano investigado por assassinato de Marielle morre em confronto na BA

Compartilhe
Ex-PM Adriano Magalhães da Nóbrega / Imagens: Reprodução/Polícia Civil/Divulgação

O ex-policial militar do Rio de Janeiro Adriano Magalhães da Nóbrega, acusado de comandar a milícia de Rio das Pedras, zona oeste da capital fluminense, foi morto na manhã deste domingo (9) em um confronto com forças de segurança da Bahia.

Ex-capitão do Bope (Batalhão de Operações Especiais), Adriano já foi investigado por suspeita de envolvimento nas mortes da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. A linha de investigação, no entanto, não evoluiu. Em depoimento à Polícia Civil do Rio de Janeiro em agosto de 2018, disse “não se recordar ao certo” onde estava na noite de 14 de março daquele ano —data em que a vereadora e seu motorista foram mortos.

Segundo a SSP (Secretaria da Segurança Pública da Bahia), Adriano estava escondido em uma propriedade na zona rural na cidade de Esplanada (a 160 km de Salvador).

No momento do cumprimento do mandado de prisão, ele teria reagido com disparos de arma de fogo e foi alvejado. Segundo a polícia, Adriano portava uma pistola austríaca calibre 9mm —além dela, havia mais três armas no imóvel.

De acordo com a SSP, o ex-PM chegou a ser socorrido para um hospital da região.

Monitorado na Bahia

Ele passou a ser monitorado por equipes do SI (Serviço de Investigação) da SSP baiana após informações de que ele teria buscado esconderijo na Bahia.

“Procuramos sempre apoiar as polícias dos outros estados e, desta vez, priorizamos o caso por ser de relevância nacional. Buscamos efetuar a prisão, mas o procurado preferiu reagir atirando”, disse o secretário da SSP-BA, Maurício Teles Barbosa.

Além da pistola, outras três armas foram encontradas no imóvel onde estava Nóbrega – Foto: Divulgação/SSP-BA

Expulso da PM e amizade com Flávio Bolsonaro

Capitão Adriano entrou para a PM fluminense no ano de 1996. Quatro anos depois, concluiu o curso de operações especiais do Bope.

Na corporação, fez amizade com Fabrício de Queiroz, que trabalhou como assessor do senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), quando este foi deputado estadual. Anos depois, Queiroz indicou a mãe e a mulher de Capitão Adriano para trabalhar no gabinete do filho mais velho do presidente da República, Jair Bolsonaro.

Segundo o MP (Ministério Público) do Rio de Janeiro, Queiroz usou contas bancárias controladas por Adriano para lavar parte dos recursos obtidos em um suposto esquema de “rachadinha” no antigo gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio).

Adriano chegou a ser homenageado por Flávio Bolsonaro com a Medalha Tiradentes, a mais alta honraria da Assembleia Legislativa. Era o ano de 2005, e ele estava preso sob acusação de cometer homicídio.

Nessa mesma época, o ex-“caveira” (membro do Bope) começou a atuar como segurança para familiares do falecido bicheiro Valdomiro Paes Garcia, o Maninho. No serviço irregular, que resultou em sua expulsão da PM decidida pela Justiça do Rio no ano de 2014, ele se envolveu na disputa fratricida pelo espólio do contraventor.

De acordo com testemunhos incluídos nos autos da investigação interna conduzida pela PM do Rio, obtidos pelo UOL, Capitão Adriano participou de ao menos oito homicídios entre os anos de 2006 e 2009, a mando do contraventor José Luiz de Barros Lopes. Conhecido como Zé Personal, ele era casado com uma filha de Maninho.

“Em geral, as vítimas desses assassinos têm alguma relação com o crime e a polícia faz vista grossa. Adriano não é o primeiro a prestar esse tipo de serviço. Outros policiais já fizeram o mesmo e praticamente todos tiveram o mesmo fim: a morte”, afirmou um delegado da Polícia Civil do Rio, que pediu para não ser identificado.

A ficha de serviços mostra que Capitão Adriano recebeu treinamento de elite durante sua trajetória como PM. Entre os cursos em que se formou, estão os de sniper (atirador de elite), operações táticas especiais e segurança especial para autoridades.